Empreendedorismo Solar Fotovoltaico
Vivemos um momento entusiasmante para o mercado da energia solar fotovoltaica. O alinhamento de metas políticas, estimuladas pela urgência climática e a necessidade de uma transição energética com vista à neutralidade carbónica do sistema produtor de energia e com a maturidade tecnológica, impulsionaram a criação de um mercado em franca expansão.
O Paradigma do Empreendedorismo Solar 🚀
Desde há umas décadas até muito recentemente, o empreendedorismo e o investimento de capital de risco focavam-se no desenvolvimento da tecnologia solar fotovoltaica em si e nos sistemas complementares, os equipamentos de BOS (balance of system). Este investimento resultou numa espantosa redução de custo, particularmente ligada à indústria solar fotovoltaica baseada em células solares de silício cristalino, que viabilizou a entrada desta tecnologia nos negócios de investimento dirigidos à sua instalação e exploração.
Em linha com as estratégias definidas no roteiro para a neutralidade carbónica até 2050 da União Europeia, os países têm viabilizado o aumento da penetração da tecnologia solar nos seus sistemas energéticos. Veja-se por exemplo, o leilão lançado pelo governo português em 2020, dedicado ao aumento de capacidade em 670 MW, o qual atraiu a atenção de vários grupos internacionais do mercado energético, batendo o recorde mundial de preço mais baixo de energia solar, cerca de 11€/MWh.
É neste enquadramento que se tem assistido à proliferação de um novo e criativo empreendedorismo por via de um largo espectro de organizações, desde cooperativas locais a grandes comercializadoras de energia, que tem por base atrair vários níveis de investimento viabilizando o aumento da capacidade de energia solar fotovoltaica. Em particular, diretivas Europeias para a promoção da produção de energia distribuída com recurso a fontes renováveis, transpostas através de regulamentações nacionais, como é o exemplo do Autoconsumo e das Comunidades de Energia Renovável, têm impulsionado um novo empreendedorismo de base tecnológica ligado à energia solar fotovoltaica.
Como se tornar um Empreendedor Solar? 👷♂️
Como investigador e tecnólogo na área da transição energética e sistemas de energia sustentáveis tenho acompanhado o crescimento de um novo e dinâmico ecossistema de projetos empreendedores que têm trazido à luz do dia inovações na área da análise de dados massiva, novos algoritmos de inteligência artificial que permitem prever padrões de consumos, mas também de produção solar fotovoltaica, e novas metodologias de monitorização desagregada de consumos.
A proliferação do conceito do prossumidor, o indivíduo ou entidade que consome a energia que produz localmente, carece, antes de mais, de um esforço coletivo para o aumento da literacia energética. Só assim assistiremos ao aumento significativo do seu número. Para além do estabelecimento de um nível de entendimento comum do sistema de energia, a criação de novas redes de produção distribuída está dependente da capacidade de conhecer e antecipar os consumos e produções energéticas locais, dotar o sistema de ferramentas automatizadas que permitam gerir e comercializar o recurso entre os prossumidores, entre estes e as empresas comercializadoras de energia e, acima de tudo, permitir a interoperabilidade entre os diversos sistemas e a rede elétrica de serviço público.
Muitas destas soluções são fruto de transferências tecnológicas bem-sucedidas dos centros de investigação através da criação de empresas spin-off, mas não só: são também fruto de um longo investimento na educação e capacitação em tecnologias digitais de informação a que assistimos nas últimas décadas e que permitiram a criação de um cluster empresarial especializado que agora também se vira para este mercado. Os desafios são ainda muitos e complexos; contemplam questões sensíveis como a privacidade da partilha de informação, o consenso e a segurança de transações financeiras eletrónicas e automatizadas.
Estamos perante um novo, emocionante e disruptivo momento de oportunidades coletivas que nos conduzirão à transição energética.
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Artigo escrito pelo especialista convidado David Pera, Doutorado em Energia e Desenvolvimento Sustentável e Investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
