Produtividade de Sistemas Solares Fotovoltaicos em dias de chuva
O Sol é um dos nossos melhores amigos e, como tal, tem influência no estado de espírito dos seres humanos. Quanto mais radioso e limpo o céu se encontra, maior a tendência em nos sentirmos bem-dispostos, positivos e produtivos. Em sentido oposto, quanto mais nublado e chuvoso for o dia, mais escondido estará o Sol, levando a que, habitualmente, a tendência seja de um estado de espírito mais contido e menos dinâmico, mesmo que se goste de ouvir a chuva a cair e esta seja uma ação muito necessária no ciclo da vida.
Os sistemas solares fotovoltaicos têm um comportamento idêntico. Tal como nós, vibram com o Sol e a sua radiação direta influencia a produtividade. A conversão da radiação em eletricidade é, geralmente, tanto maior quando a radiação incidente é mais alta. Esse dado leva muitas vezes a questionar-se:
Com Sistemas Fotovoltaicos podemos produzir eletricidade mesmo em dias de chuva? 🤔
Fazendo uso da frase que marcou a candidatura de Barack Obama à presidência dos EUA, “Sim, podemos!”. Existem inúmeros parâmetros que fazem variar a quantidade de energia gerada num sistema solar fotovoltaico ligando-se, invariavelmente, e de forma significativa, à radiação direta, ou seja, a quantidade de raios solares que incidem diretamente nos módulos fotovoltaicos nos períodos de pouca ou nenhuma nebulosidade. A verdade é que é necessário ter em conta outros aspetos além da orientação e inclinação dos módulos fotovoltaicos para que se potencie a produção de energia elétrica através destes sistemas. No entanto, as tecnologias existentes permitem que também haja produção de energia apenas com radiação difusa (radiação que não incide diretamente nos módulos fotovoltaicos), como por exemplo em dias de maior nebulosidade e mesmo de chuva. A energia gerada é inferior, mas não é desprezável.
Tomemos como exemplo um sistema fotovoltaico situado em Lisboa com uma potência de pico de 16,8 kWp e potência de ligação limitada a um inversor de 15 kW. Orientado praticamente a Sul e com uma inclinação de 15o, é espectável que a maior produtividade ocorra durante o Verão.
Num dia de céu limpo, durante a Primavera, a energia gerada total poderá rondar os 100 a 120 kWh. Esta energia seria suficiente para carregar totalmente a bateria de dois a três veículos elétricos (dependendo do modelo). Olhando para o perfil de produção, na Figura 1, verificamos que a curva é muito suave acompanhando o aumento gradual da radiação solar desde o nascer do Sol e até cerca da hora de almoço, período a partir do qual a radiação incidente vai diminuindo gradualmente até ao pôr do Sol.
Figura 1 – Perfil de produção (dias de céu limpo)
Este perfil é muito comum em dias com pouca ou nenhuma influência de sombreamentos naturais provocados pela passagem de nuvens, sendo espectável que em dias de Verão se atinja, com maior frequência, o valor limite de 15 kW imposto pelo inversor.
Em sentido contrário, num dia de grande nebulosidade e de precipitação, os perfis de produção ficam mais irregulares e imprevisíveis, conforme se pode ver num exemplo, do mesmo sistema solar fotovoltaico, representado na Figura 2.
Figura 2 – Perfil de produção (dias de chuva)
Comparativamente, a energia gerada diminui, representando cerca de 25% de um dia de céu limpo. Ainda assim, permitiria carregar uma boa parte da bateria de um veículo elétrico. Este dado não é irrelevante se atendermos ao facto de em Portugal e na Europa, se estar a apostar na eletrificação de consumos, investindo-se também, cada vez mais, na geração de energia através de fontes renováveis, como são exemplo os sistemas solares fotovoltaicos.
O dimensionamento de um sistema fotovoltaico deverá ser olhado em conjunto com os perfis de consumo do ponto de instalação, isto num cenário de autoconsumo, para que possa potenciar a instalação no seu esplendor. Ainda que o cenário mais favorável seja, tipicamente, conseguido no Verão, consegue-se perceber que mesmo em dias de grande nebulosidade e pluviosidade, como o apresentado na Figura 2, se consegue gerar energia ecologicamente limpa e que contribuirá para reduzir a dependência de consumos da rede e reduzir os custos associados. E quem não gosta de reduzir custos? Em dias de chuva pode esta energia gerada contribuir para sentir o Sol mais perto e tornar o dia ainda mais positivo.
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Artigo escrito por Carlos Varela Raposo, Gestor de Projetos na Lisboa E-Nova na área da energia com financiamento nacional e/ou europeu.